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Pesquisa desenvolvida em 2016, com o apoio da Pró-Reitoria de Graduação da UFRJ - PR-1, que con

Arte e Matemática na Contemporaneidade

Experimentos em Escultura

Projeto de pesquisa interdisciplinar

Em sentido horário, Andrés Pássaro, Paulo Eduardo Braga, Eneas de Medeiros Valle e Roberto Costa da Mata

Pesquisa desenvolvida em 2016, com o apoio da Pró-Reitoria de Graduação da UFRJ - PR1, que concedeu duas bolsas do Programa de Iniciação Artística e Cultural - bolsas PIBIAC

Coordenação: Enéas de Medeiros Valle (EBA - coordenador do LabPD-Arte) e Andres Passaro (FAU, coordenador do LAMO - Laboratório de Modelos).

Pesquisadores: Paulo Eduardo Braga (estudante de Desenho Industrial - Projeto de Produto), Tabatha Esteves de Mello (estudante de Arquitetura) e Roberto Costa da Matta (estudante de Arquitetura).

Introdução

Na tradição ocidental, a relação entre as artes visuais e a matemática é estreita, desde as regras de proporção da arquitetura e da estatuária gregas, até o emprego da perspectiva científica no desenho e na pintura após a Renascença. No século XX, a partir do experimentalismo de Pablo Picasso, os artistas de vanguarda pesquisaram novos usos para a geometria na arte, tendo como consequência o surgimento da escultura abstrata, para cujo desenvolvimento os artistas construtivistas, concretistas e neoconcretos deram uma contribuição significativa.

O estudo da escultura abstrata do século XX revela que seus princípios formadores são a geometria euclidiana, o corte e a dobra aplicados à folha de metal, princípios esses que coincidem com os da construção de máquinas e objetos industriais em geral. Na geometria euclidiana, cujos postulados são válidos apenas para superfícies planas, as retas, os ângulos e os círculos resumem os instrumentos necessários e suficientes para a criação de formas bi ou tridimensionais. Por causa da geometria euclidiana, as retas e os ângulos predominam na escultura, na arquitetura e desenho industrial modernistas.

Descrição do projeto

A matemática moderna, surgida no século XIX, tem por fundamento as noções de conjunto e de relação (ou função) entre conjuntos, sendo a função matemática, que pode ser representada graficamente como uma curva no plano ou no espaço, o instrumento adequado para o estudo de superfícies não planas, assim como para o desenvolvimento de geometrias não euclidianas.

Com este projeto, pretendemos criar modelos de escultura abstrata que tenham por base o corte e a dobra, mas que, diferentemente da escultura abstrata modernista, tenha a forma derivada de curvas fechadas que podem ser concebidas como homomorfismos do círculo ou como conjuntos fechados de parábolas ou hipérboles.

A partir da transposição para imagens digitais 3-D de um conjunto de 7 (sete) modelos tridimensionais, criados em cartolina e compensado por Enéas Valle em 1985, serão realizados novos modelos em MDF, acrílico e metal.

Objetivos

 

1) Evitar a perda definitiva dos modelos criados em 1985, em processo de deterioração.

2) Empregar tecnologia -- softwares gráficos e máquinas de corte a laser -- no processo de criação e construção de esculturas.

3) Experimentar o emprego da curva como base para a criação de modelos tridimensionais.

4) Estudar, com base num procedimento experimental, a relação matéria-superfície-cor na escultura contemporânea.

 

Metodologia

 

1) Transposição para a imagem numérica dos 7 modelos originais de Enéas Valle, através dos softwares gráficos Autocad e Rinoceros. Desenvolvimento dos modelos virtuais para a utilização da máquina de corte a laser.

2) Confecção de 7 modelos em MDF, em pequena escala, com a máquina de corte a laser. Cada um dos modelos representa um padrão que será desdobrado, posteriormente, numa família de variantes do padrão original, diversos nas proporções relativas.

3) Desenvolvimento das 7 famílias de modelos-padrão em MDF e pequena escala. Experimentação com diferentes cores.

4) Criação de exemplares em acrílico e tamanho compatível com a arquitetura de interiores.

5) Estudo teórico para a transformação dos modelos em escultura de aço polido para ambientes externos: material adequado, condições de produção, planilha de custos.

 

Justificativa

 

A oposição Modernismo x Pós-Modernismo, também expressa como oposição Arte Moderna x Arte Contemporânea, apresenta-se formalmente como oposição reta x curva, havendo um predomínio da reta na arte antes da década de 1980 e, contrariamente, um predomínio da curva na arte a partir dessa época. Isso é evidente na arquitetura, mas não menos notável na escultura e na pintura, embora nas artes plásticas outras questões tendam a obscurecer a relação reta x curva.

A valorização da curva no processo de criação artística retoma uma tendência do Modernismo brasileiro, expressa na obra de artistas como Oscar Niemeyer, Lygia Clark e Lygia Pape, sendo em particular os "Bichos" de Clark e os "Amazoninos" de Pape obras inspiradoras deste projeto.

Para os estudantes participantes da pesquisa, o projeto representa uma experiência concreta em desenvolvimento de projeto de produto fabricado industrialmente, que lhes permitirá desenvolver a prática com softwares de desenho 3-D e com a máquina de cortes a laser. Além disso, as questões formais levantadas pelo projeto constituem um estímulo ao estudo da escultura contemporânea e suas interfaces com o desenho industrial e a arquitetura.

Bibliografia

 

DUBY, GEORGES / DAVAL, JEAN-LUC. Sculpture from Antiquity to the present day. Köln: Taschen Verlag, 2006.

FIELL, CHARLOTTE & PETER. Design do séc. XX. Köln: Benedikt Taschen Verlag, 2005.

FUSCO, RENATO. História da arte contemporânea. Lisboa: Editorial Presença, 1988.

GREENBERG, CLEMENT. Arte e cultura. Ensaios críticos. S. Paulo: Editora Àtica, 1996.

HANDERSON, LINDA DALPYMPLE. The fourth dimension and non-euclidian geometry in modern art. Princeton: Princeton University Presxs, 1983.

HERZ, RICHARD. Theories of contemporary art. New Jersey: Prentice Hall, 1993.

KRAUSS, ROSALIND. Caminhos da escultura moderna. S. Paulo: Martins Fontes, 2001.

LUCIE-SMITH, EDWARD. Os movimentos artísticos a partir de 1945. S. Paulo: Martins Fontes, 2006.

MILLIET, MARIA ALICE. Lygia Clark: Obra-trajeto. S. Paulo: Editora da Universidade de S. Paulo, 1992.

MONVOISIN, ALAIN / COLENO, NADINE. Dictionnaire international de la sculpture moderne et contemporaine. Paris: Éditions du Regard, 2008.

PEVSNER, NIKOLAUS. Origens da arquitetura moderna e do design. S. Paulo: Martins Fontes, 2001.

READ, HERBERT. Escultura moderna. Uma história concisa. S. Paulo: Martins Fontes, 2003.

RICKEY, GEORGE. Constructivism. Origins and evolution. New York: George Braziller Inc, 1995.

RIEMSCHNEIDER, BURKHARD / GROSENICK, UTA. Arte atual. Köln: Taschen, 2001.

RELATÓRIO DE PESQUISA INTERDISCIPLINAR Nº1

Período 03 a 12/2016

Título da pesquisa: Arte e Matemática na Contemporaneidade – Experimentos em Escultura

Bolsistas: Paulo Eduardo Braga de Mattia - 112027718 – Cursando 8º período de Desenho Industrial – Projeto de Produto

Roberto Costa da Matta – 11462340 – Cursando o 5º de Arquitetura e Urbanismo

Tabatha Esteves de Mello– 111287878 – Cursando o 7º período de Arquitetura e Urbanismo

Orientadores: Enéas de Medeiros Valle (LabPD-Arte / EBA) e Andres Martin Passaro (LAMO / FAU)

  1. Descrição do projeto​

 

O projeto consiste na reconstituição de 7 (sete) modelos de peças escultóricas concebidas e criadas pelo artista plástico Enéas Valle em meados dos anos 80, os quais, tendo sido executados em cartolina e compensado, se encontravam em estado avançado de deterioração.

 

Denominadas de Geobichos devido a uma semelhança gestáltica com a forma orgânica de animais, a criação das esculturas seguiu um método puramente geométrico, inspirado na Teoria das Catástrofes, onde são empregados os conceitos matemáticos de singularidade, espaço topológico e fractal.

 

Inicialmente são criadas curvas fechadas que determinam uma superfície plana, a qual é dobrada em um ou mais eixos perpendiculares, que serão os responsáveis pela sustentação da escultura e pela resistência estrutural. As dobras verticais são singularidades que tornam possível a passagem da forma plana bidimensional para a forma tridimensional (escultura).

 

Em resumo, o conceito do projeto é trabalhar a partir da Matemática Contemporânea, empregando formas geométricas que, quando dobradas em eixos de 90 graus, criem esculturas. A execução do projeto consistiu em catalogar as peças já existentes e desenvolver novas peças em novos materiais.

 

 

     2. Execução do projeto

 

16/11/15 a 25/11/15 – Processo de catalogação das peças existentes

 

Nessa etapa foram fotografadas todas as peças originais. Participaram dessa etapa Paulo e Tabatha. As peças confeccionadas em madeira foram fotografadas com câmeras digitais, numeradas e devidamente separadas em suas correspondentes pastas, a fim de registrar os originais e utilizá-los de base para as modelagens e planificações subsequentes.

 

30/11/15 a 11/12/15 – Processo de planificação das peças e da modelagem digital

Nessa etapa, as peças tiveram suas faces fotografadas separadamente afim de se criar a planificação das peças. Através dessas planificações foram geradas as faces que deram origem os respectivos modelos digitais. Essas imagens então foram importadas para um programa de modelagem digital – o Rhinoceros. No programa suas planificações foram vetorizadas e serviram de base para a construção dos modelos tridimensionais virtuais através da formação de curvas guiadas por pontos e extrusões. A planificação e a modelagem foram feitas por Paulo e Tabatha.

 

A fim de termos uma tipologia formal mais clara e coerente foram feitas algumas modificações nas peças, além de adequações técnicas para ter-se um modelo físico melhor acabado, utilizando eixos e encaixes entre as partes das peças. Os eixos foram criados para serem reajustados automaticamente para cada tamanho de peça e para cada encaixe através de um plugin do Rhinoceros chamado Grasshopper. O plugin ajustou através de programação o número e o tamanho dos dentes dos encaixes. A programação e os encaixes foram feitos pelo Roberto.

07/03/16 a 11/04/16 - Processo de corte das partes das peças

           

Com as planificações e os encaixes prontos, criou-se um arquivo visando replicar essas formas, passando-as do digital para o físico. Com o uso de uma impressora de corte a laser, utilizou-se chapas de MDF para gerar as partes que viriam a serem montadas. O estudante Roberto da Matta foi o responsável pela execução do corte das peças através do maquinário disponibilizado pelo LAMO e seu coordenador, Andrés Pássaro, parceiros na pesquisa e que deu a orientação necessária. A impressora executou o desenho nas chapas de MDF e gerou as partes necessárias para montagem das peças. Tendo sido executado na impressora de corte a laser, os desenhos puderam ter um nível de reprodução de alta qualidade.

11/04/16 a 25/04/16 - Processo de montagem

A montagem foi executada por Paulo, Tabatha e Roberto. As peças tinham de duas a três partes que necessitavam serem unidas para formar a peça completa. Entre os encaixes foi aplicada cola instantânea. Depois de alguns minutos em sustentação manual para a secagem da cola, as peças estavam unidas a peça completa. Durante esse processo, as peças ganharam a tridimensionalidade proposta inicialmente. Verificou-se que algumas peças não tinham tanto apoio nas bases e outras até tombavam devido a dois motivos principais: número e posição dos eixos e falha no desenho da base, que ficava desalinhada. As peças que possuíam números ímpares de eixos e um dos seus eixos se encontravam em um local sem apoio, tiveram seus centros de massa posicionados fora da peça, fazendo com que eles não tivessem estabilidade. Além disso, as peças que não possuíam todos os seus pontos de apoio alinhados com a superfície de contato, deixaram com que a peça ficasse instável, pois alguns pontos não tocavam a superfície.

 

02/05/16 a13/12/16 - Processo de acabamento

Para o acabamento, foram utilizadas três técnicas: calafetagem, lixamento e pintura. Paulo, Tabatha e Roberto participaram dessas etapas.

 

Depois de montadas, as peças foram seladas em seus eixos com massa de madeira, também conhecida como calafate. A massa foi aplicada nas juntas, retirando-se os excessos. O tempo total de secagem da massa é de 2 horas.

Após esse período, a lixa está pronta para ser lixada. Utilizou-se lixa 100 de madeira para retirar as rebarbas e então, para um acabamento mais fino, uma lixa de 400 e 600. Esse processo visou nivelar a face das peças, bem como eliminar os espaços entre os encaixes.

Após calafetagem e lixamento, as peças foram pintadas com tinta spray primer cinza, para conferir uma base preparatória. Com o primer aplicado, após secagem, ele foi lixado para eliminar aspereza e irregularidades e só então foi aplicada tinta spray dourada na cobertura.

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