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ALUNO OU ESTUDANTE?

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A diferença entre aluno e estudante consiste na oposição entre o aprendizado uniforme do aluno e o estudo personalizado do estudante. A relação docente-discente é bem diferente em cada um dos casos. Por ser uniforme o programa, os alunos não têm liberdade de escolha e seguem a direção e o ritmo indicados pelo professor, que concentra toda a responsabilidade pelo processo de aprendizado. Contrariamente, o estudante segue um programa que não é uniforme, segundo suas próprias escolhas e seu próprio ritmo. Por isso mesmo, a responsabilidade do aprendizado é compartilhada, cabendo ao professor propor e orientar um programa que o estudante desenvolve segundo sua própria determinação.

 

Quanto à diferença entre educação e ensino, pode-se constatá-la considerando-se a diferença entre os verbos educar e ensinar: “educa-se alguém para algo” e, bem diferente, “ensina-se algo para alguém”. Ensinar é muito mais simples e limitado do que educar: pode-se ensinar à distância, porém educação exige convívio, interação presencial e o cumprimento das exigências que o convívio impõe, a começar pela disponibilidade da mesa de refeição comum.

 

A consideração dessas duas diferenças é fundamental para um projeto estratégico de educação que leve em conta a divisão atual do mundo globalizado entre países criadores e exportadores de tecnologia, de um lado, e países consumidores e reprodutores de tecnologia ou de seus produtos, do outro. Só se pode ensinar o que já se conhece; para que se possa encontrar novas soluções e descobrir novas possibilidades, é preciso a aventura da liberdade e o guia da responsabilidade. Por isso, o aluno, por definição, apenas reproduz o conhecido, enquanto o estudante é a aposta que se faz no avanço do conhecimento.

 

Resumindo, a questão estudante-aluno é a questão da liberdade-responsabilidade no processo educacional, que é justamente suprimida quando se apaga a diferença entre o aluno e o estudante e, com ela, a distinção entre a educação da criança, do adolescente e do adulto. Ora, o corpo discente de uma universidade é constituído maciçamente por jovens saindo da adolescência e entrando na fase adulta. O sentido do trote é justamente deixar uma marca da entrada na vida adulta, quando o indivíduo será confrontado com opções a serem feitas e a decisões a serem tomadas e mantidas.

 

Consideremos de novo a diferença entre os verbos ensinar e educar: ensina-se algo para alguém ou alguém para algo, mas educa-se alguém para uma atividade (comportamento), sem que a inversa possa ser verdadeira. Assim, quando se emprega o verbo ensinar, toda a atenção e a ênfase estão no conteúdo pré-definido do que vai ser ensinado, e é exatamente esse conteúdo objetivo que define o ensino. Pelo contrário, quando se utiliza o verbo educar, a atenção e a ênfase estão no indivíduo, no sujeito que precisa ser educado para um determinado tipo de comportamento, que jamais é um conteúdo objetivo, mas sim e sempre uma capacidade de agir em determinadas circunstâncias futuras. Por isso, ensino é algo infinitamente mais simples e fácil do que educação.

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Há um princípio obsoleto, mas que é um verdadeiro dogma pedagógico: acredita-se que a educação cabe à família, enquanto o ensino é competência do poder público, isto é, da sociedade civil e do Estado. Essa verdade pode valer nas aldeias, vilas, povoados e cidades pequenas ou médias, com menos de 1 milhão de habitantes, como era a regra absoluta até o advento do século XX, quando as cidades e a população mundial cresceram de forma exponencial e os principais portos e as principais capitais mundiais tornaram-se metrópoles interconectadas pelo telégrafo, pelo telefone, pelo vídeo e pela web. Nas metrópoles e megalópoles do séc. XXI, às famílias falta o tempo necessário para a educação, pois educação depende em primeiro lugar de convívio, compartilhamento de situações, portanto de tempo-espaço. Ora, com a mãe e o pai cidadãos trabalhando fora e em tempo integral, geralmente gastando um longo tempo no transporte entre a casa e o trabalho, o tempo que sobra para a educação familiar é o do sono e do descanso, isto é, a noite e o fim de semana. Por conseguinte, a educação propriamente dita fica necessariamente a cargo de outros, ou os filhos – crianças e adolescentes – são largados à própria sorte.

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A redução da questão da educação à questão do ensino é adequada ao discurso simplista do embate político-partidário e midiático. Graças ao reducionismo, tudo se torna uma questão de dinheiro. Mais verbas! melhores salários! melhores condições de ensino! São reivindicações justas, mas que jamais se resolvem, como demonstram as sucessivas greves universitárias nas duas últimas décadas. Os novos acordos salariais assinados após as greves só duram até a próxima greve.

 

 

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Fundandor da editora Aleph, o Prof. Pierluigi Piazzi, carinhosamente Prof. Pier, foi um grande entusiasta de histórias de ficção científica e dava palestras ensinando como melhorar a inteligência.

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O que o Prof. Pier sabiamente já dizia?

"Aluno não é Estudante!"

Confira!

VOCÊ SABIA?

O estudante Honestino Guimarães é um dos 125 desaparecidos durante  a  Ditadura  Militar

A DIFERENÇA ENTRE ESTUDANTE E ALUNO

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A universidade do aluno restringe-se essencialmente a aulas expositivas e algumas experiências de laboratório ou oficina, sendo alta ou altíssima a carga horária total das disciplinas expositivas cursadas pelos estudantes, que, por outro lado, não dispõem de muito tempo para participar de projetos de pesquisa ou de extensão. Já na década de 60 do século passado constatava-se a insuficiência da aula expositiva para a formação científico-tecnológica dos universitários. Novos métodos foram inventados, como na recém-criada Universidade de Brasília – Unb, que experimentou no início da década de 70 o Método de Instrução Personalizada nas áreas de Ciências Exatas (Física, Química e Matemática) e Ciências Biológicas (Biologia e Medicina). Entretanto, junto com o fechamento dos DCEs e Centros Acadêmicos, teve início a degradação geral da universidade brasileira durante a Ditadura. Proibida a crítica, proibido o convívio: a educação universitária foi reduzida ao ritual das aulas expositivas, à universidade do aluno, interessado apenas em nota e diploma.

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Já se passaram 3 décadas desde a redemocratização do Brasil, as entidades estudantis têm espaço dentro das unidades dos campi, os direitos democráticos dos estudantes estão assegurados, mas só muito recentemente deu-se início à construção de restaurantes estudantis, de mensas, dentro do campus do Fundão! Para que exista estudante, é preciso que haja campus e que este leve em consideração a condição especial do estudante. Em primeiro lugar, é indispensável pensar no estudante em tempo integral e no estudante em tempo parcial. Em termos educacionais, não se pode perder de vista a pessoa que está sendo educada, no caso da universidade, o estudante. A faixa etária média dos estudantes universitários é de 18 a 30 anos, encontrando-se a maioria na faixa de 18 a 25 anos, isto é, logo após a adolescência. Há os que são empregados, os que já são casados e também os que já têm filhos pequenos, embora a maioria seja de estudantes solteiros e dedicados integralmente aos seus cursos. Para estes, o campus deve oferecer obrigatoriamente bons refeitórios, uma biblioteca central, residência estudantil, atividades esportivas e atividades culturais, aí incluído necessariamente o cinema. O desenvolvimento do potencial dos estudantes depende das condições de interação disponíveis. Quanto mais amplas e frequentes as interações entre estudantes de disciplinas diversas, tanto maior a sinergia criadora que se denomina caldo de cultura.

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Enéas de Medeiros Valle, Dr. em Comunicação e Cultura

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